O homem estava sentado sobre uma lata na beira de uma garça.
O rio Amazonas passava ao lado.
Mas eu queria insistir no caso da rã.
Não seja este um ensaio sobre orgulho de rã. Porque me contou aquela uma que ela comandava o rio Amazonas.
Falava, em tom de sério, que o rio passava nas margens dela.
Ora, o que se sabe, pelo bom senso, é que são as rãs que vivem nas margens dos rios. Falava, em tom de sério, que o rio passava nas margens dela.
Mas aquela rã contou que estava estabelecida ali desde o começo do mundo.
Bem antes do rio fazer leito e passar.
E que, portanto, ela tinha a importância de chegar primeiro.
Que ela era por todos os motivos primordial.
E quem se faz primordial tem o condão das primazias.
Portanto era o rio Amazonas que passava por ela.
Então, a partir desse raciocínio, ela a rã, tinha mais importância.
Sendo que a importância de uma coisa ou de um ser não é tirada pelo tamanho ou volume do ser mas pela permanência do ser no lugar.
Pela primazia.
Por esse viés do primordial é possível dizer então que a pedra é mais importante que o homem. Por esse viés, com certeza, a rã não é uma criatura orgulhosa.
Dou federação a ela.
Assim como dou federação à garça quem teve um homem sentado na beira dela.
As garças têm primazia.
(de Manoel de Barros, em Memórias Inventadas – A Infância)
Pois é.. perspectiva é tudo nessa vida!
ResponderExcluirBeijos
Roberta.
Adoro o Manoel de Barros!
ResponderExcluirObrigada pela visita ao blog.
Um abraço!
o conhecimento não é um complexo de coisas acabadas, caso fosse não haveria progresso!
ResponderExcluirtambém concordo!!!!
ResponderExcluirnadinha está acabado!